Um grupo de quase cem pessoas mantém invadido o prédio da Câmara Municipal de Natal há uma semana em protesto contra a prefeita Micarla de Sousa (PV). Eles pedem o impeachment da prefeita, cuja gestão é investigada por supostas irregularidades em contratos de aluguel de imóveis para o uso da administração municipal.
O movimento chamado "Fora Micarla" surgiu com o protesto de estudantes em redes sociais como Facebook e Twitter. Alguns deles dizem ter se inspirado na Primavera Árabe, onda de protestos contra governantes de países árabes que começou no final do ano passado e foi potencializada pela internet.
A mobilização na internet chegou às ruas, com protestos que reuniram mais de 2.000 pessoas, segundo os manifestantes. A onda de protestos contra a prefeita de Natal ganhou força na semana passada, quando a CEI (Comissão Especial de Inquérito) instalada na Câmara Municipal para investigar os aluguéis foi extinta.
A comissão foi encerrada após a saída da vereadora Sargento Regina (PDT), única representante da oposição na CEI. Ela alegou que os governistas ficaram com a relatoria e a presidência da comissão, o que dificultaria o trabalho da oposição.
O grupo que ocupou o prédio, formado principalmente por estudantes e sindicalistas, pede que a comissão seja reativada. Segundo o vereador Edivan Martins (PV), presidente da Câmara de Natal, isso não é possível porque ela já foi arquivada.
"Desde o início estamos exaustivamente através do diálogo buscando uma solução e as reivindicações do movimento serão atendidas de acordo com o regimento interno. Não tem como reativar a CEI", afirmou. "No entanto, qualquer iniciativa ou requerimento para abrir uma nova CEI com outro tema e com as sete assinaturas necessárias para sua instalação será aberta."
Em negociação intermediada pela OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), o grupo pediu ao presidente da Casa que a CEI seja aberta com um vereador da oposição na presidência ou relatoria da comissão. Edivan Martins disse, no entanto, que essa reivindicação não poderia ser atendida porque a composição da CEI depende dos partidos políticos.
Nesta segunda-feira (13), o desembargador Caio Alencar deferiu um pedido de suspensão do cumprimento de reintegração de posse da Casa porque "as partes estão em processo de negociação para a desocupação daquele prédio público".
Em entrevista nesta terça-feira (14), a prefeita Micarla de Sousa afirmou que não pode interferir em assuntos do Poder Legislativo, mas determinou a entrega de todos os contratos de aluguel ao Ministério Público do Rio Grande do Norte em até 72 horas. Ela nega qualquer irregularidade em contratos.
Acerca dos protestos promovidos pelos estudantes, a prefeita afirmou que "respeita qualquer movimento, desde que seja ético, respeitoso e democrático" e que recebeu o "silêncio" em "todas as vezes em que procurei saber as reivindicações".