A petição com mais de 1,5 milhão de assinaturas
contra o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), será entregue nesta
quarta-feira (20) em ato no Congresso Nacional. A ONG (organização não
governamental) por trás da petição, a Avaaz, recebeu de junho de 2006 até
dezembro de 2011 US$ 25 milhões em doações (cerca de R$ 50 milhões).
Fundada em 2007 nos Estados Unidos, a
organização se diz "100% financiada por doações espontâneas" realizadas por
internautas de mais de 190 países, onde atua como plataforma para coleta de
assinaturas, envios de mensagens, ligações telefônicas e em campanhas in loco
para diversas causas: da defesa ao Código Florestal brasileiro até o fim do
trabalho escravo na Índia.
Em seu site, a ONG informa que recebe, em
média, doações por pessoa de U$ 35 (R$ 70) e que não se "reporta a doadores de
grande escala, fundações ou interesses especiais". Segundo eles, os recursos
arrecadados financiaram mais de 10 mil manifestações, flashmobs
(manifestações-relâmpago organizadas via internet), vigílias e passeatas, entre
outros eventos.
A Avaaz publica os relatórios de 2006 a 2011 de
suas receitas brutas, mas não há um detalhamento de quanto cada "colaborador"
recebe pelo trabalho nem a origem das doações.
Entre os fundadores, apenas o diretor-executivo
Ricken Patel, considerado o presidente da organização, tem seus rendimentos
anuais destacados nos levantamentos financeiros periódicos. Desde 2006, Patel
recebeu cerca de US$ 120 mil por ano (em torno de R$ 24 mil por mês). A
dedicação de Patel seria de 8h semanais à ONG, de acordo com os
relatórios.
Pedro Abramovay, diretor de campanha da Avaaz,
afirmou ao UOL que "o único salário público é do diretor-executivo, Ricken
Patel" e que os demais salários, por política interna, não são divulgados. "Não
sei quanto as pessoas ganham, mas ninguém ganha mais que ele. [Os salários não
são divulgados] porque é uma organização privada e tem organização salarial
interna", argumentou.
"A Avaaz não aceita nenhuma doação de pessoa
jurídica, só pessoa física e só pequenas doações. Não existe a possibilidade de
ter alguém que faça uma grande doação que comprometa a independência da Avaaz. O
modelo de financiamento da Avaaz é de pequenas doações pela internet, que é o
que garante a nossa independência", afirma.
O Brasil é o país com o maior número de membros
dentro da "comunidade mundial" da Avaaz, com mais de 3 milhões de membros,
seguido pela França, com 1,8 milhão, e Alemanha, com 1,1 milhão.
A Avaaz chama de membros, as pessoas que estão
nas listas de petições deles, num total de mais de 19,5 milhões de pessoas. Elas
não são obrigatoriamente doadoras. As assinaturas das petições são gratuitas e
as doações são opcionais, os valores sugeridos no site em português variam de R$
15 a R$ 150. O valor máximo de doação fica em torno de 5.000 euros,
aproximadamente R$ 13 mil.
Segundo a diretora de campanhas da Avaaz, Emma
Ruby-Sachs, a organização conta com o apoio de milhares de voluntários e um
quadro de 100 funcionários distribuídos em diversos pontos do mundo, cujos
salários são compatíveis com a média do que o setor paga.
Com relação ao salário de Patel, Emma
Ruby-Sachs explica que ele é determinado por um comitê independente com base em
pesquisas de mercado e "é bastante abaixo da média de um salário de um CEO" de
uma organização similar com sede na cidade de Nova York, nos Estados Unidos.
Para o professor da UnB (Universidade de
Brasília) Lúcio Teles, especialista em mídias sociais, o sucesso mais recente de
mobilização social foi a proposta da "Ficha Limpa", que se tornou lei e motivou
ainda mais brasileiros a utilizar a internet para manifestar sua indignação
contra políticos e atos do cotidiano.
Na avaliação do especialista, a descrença e a
desconfiança em partidos políticos – que estariam voltados para interesses
próprios – levariam cidadãos a buscar nos movimentos sociais "voz e espaço" para
expor e brigar pelos seus interesses.
"Creio que os partidos políticos, não só no
Brasil, mas em outros países, são vistos como pouco efetivos, como centrados em
seus próprios interesses. Como não existe uma alternativa ainda, é a internet e
as redes [sociais] que buscam focar em pontos que os partidos não têm focado
para responder aos desejos da população".
Teles salienta que um dos pontos de maior
crítica ao serviço público, por exemplo, é a possibilidade de os parlamentares
receberem 14º e 15º salários e só trabalharem efetivamente três vezes por
semana.
Fonte: Camila Campanerut/UOL Notícias